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LITERATURAS
LITERATURAS

 

05-04-2011 23:17:10

PAULO FREIRE

EDUCAÇÃOEMUDANÇA

 

EDUCAÇÃO E ORDEM CLASSISTAO

     lançamento desta obra de Paulo Freire em português se dá no momento em que o educador brasileiro retorna de quinze anos de exílio. Retorna ao Brasil “distante do qual estava há 14 anos,mas distante do qual nunca estava também”, como declarou ele no ano passado, quando foiimpossibilitado de participar do I Seminário de Educação Brasileira, porque lhe fora negado opassaporte. Indagado ao descer hoje no aeroporto de Viracopos se havia acompanhado a evoluçãopolítica e educacional do país, Paulo Freire disse ter feito o impossível para isso e acrescentou: “masa cada momento eu descubro que é indispensável estar aqui para melhor entender toda a atualrealidade. Quinze anos de ausência exigem uma reaprendizagem e uma maior intimização com oBrasil de hoje.” Com a modéstia intelectual que sempre o caracterizou ele volta disposto a percorrermais uma etapa nesta sua permanente “aprendizagem”.

     É-me, portanto, impossível apresentar hoje esta obra sem mencionar sua volta do exílio. O exílio nãomarcou, de forma alguma, o seu pensamento de mágoa ou de uma nostalgia doentia. Onde quer quetenha trabalhado, saindo do país, – no Chile, nos Estados Unidos, na Suíça ou na África – sua teoriae sua práxis estão carregadas de otimismo, certamente um otimismo crítico, levando mensagens deesperança, certo de estar combatendo ao lado daqueles que são os portadores da liberdade, osoprimidos. Paulo Freire não é um intelectual acadêmico, distante da vida concreta, do quotidiano. porisso – e não porque tenha seguido uma doutrina filosófica ou um ideário político – que sua teoria esua práxis são tão fortes, violentas até, carregadas de um sentido existencial profundo. Sentido quePaulo Freire não “dá”, mas que “exprime”. E como o seu ponto de par-tida, a sua opção radical é alibertação dos oprimidos, o sentido mais profundo da sua obra é ser a “expressão” dos oprimidos.Daí ser uma obra inquietadora, perturbadora, revolucionária. Ela exprime a realidade e a estratégiado oprimido. Foi por essa razão que não foi tolerado após o golpe militar de 1964: por ser o“pedagogo dos oprimidos”.

     Feitas estas observações iniciais, minha intenção é tecer algumas considerações sobre a temáticacentral deste livro : a mudança.

     Inicialmente quero dizer que, ao lado da conscientização, a mudança é um “tema gerador” da práticateórica de Paulo Freire. Como o tema da consciência, o tema da mudança acompanha todas as suasobras. A mudança de uma sociedade de oprimidos para uma sociedade de iguais e o papel daeducação – da conscientização – nesse processo de mudança é a preocupação básica da pedagogiade Paulo Freire. Aqui, porém, nestes quatro estudos, ele se detém mais sistematicamente.

     Pode a educação operar a mudança? Que mudança?

     Paulo Freire combate a concepção ingênua da pedagogia que se crê motor ou alavanca datransformação social e política. Combate igualmente a concepção oposta, o pessimismo sociológicoque consiste em dizer que a educação reproduz mecanicamente a sociedade. Nesse terreno em queele analisa as possibilidades e as limitações da educação, nasce um pensamento pedagógico que levao educador e todo profissional a se engajar social e politicamente, a perceber as possibilidades daação social e cultural na luta pela transformação das estruturas opressivas da sociedade classista.Acrescente-se porém que embora ele não separe o ato pedagógico do ato político, nem tampouco eleos confunde. Evitando que-relas políticas ele tenta aprofundar e compreender o pedagógico da açãopolítica e o político da ação pedagógica, reconhecendo que a educação é essencialmente um ato deconhecimento e de conscientização e que, por si só, não leva uma sociedade a se libertar daopressão.

     O Compromisso do Profissional com a Sociedade

     A questão do compromisso do profissional com a sociedade nos coloca alguns pontos que devem seranalisados. Algumas reflexões das quais não podemos fugir, necessárias para o esclarecimento dotema.

     Em primeiro lugar, a expressão “o compromisso do profissional com a sociedade” nos apresenta oconceito do compromisso definido pelo complemento “do profissional”, ao qual segue o termo “com asociedade”. Somente a presença do complemento na frase indica que não se trata do compromissode qualquer um, mas do profissional. A expressão final, por sua vez, define o pólo para o qual ocompromisso se orienta e no qual o ato comprometido só aparentemente terminaria, pois na verdadenão termina, como trataremos de ver mais adiante.

     As palavras que constituem a frase a ser analisada não estão ali simplesmente jogadas, postasarbitrariamente. Diríamos que se encontram, inclusive, “comprometidas” entre si e implicam, naestrutura de suas relações, uma determinada posição, a de quem as expressou.

     O compromisso seria uma palavra oca, uma abstração, se não envolvesse a decisão lúcida eprofunda de quem o assume. Se não se desse no plano do concreto.

     Se prosseguimos na análise da frase proposta, sentimos a necessidade de uma penetração cada vezmaior no conceito do compromisso, com a qual podemos apreender aquilo que faz com que um atose constitua em compromisso.

     Mas, no momento em que esta necessidade nos é imposta, cada vez mais claramente, como umaexigência prévia à análise do compromisso definido – o do profissional com a sociedade –, umareflexão anterior se faz necessária. É a que se concentra em torno da pergunta: quem podecomprometer-se?

     Contudo, como pode parecer, esta pergunta não se formula no sentido da identificação de quem,entre alguns sujeitos hipotéticos – A, B ou C –, é o protagonista de um ato de compromisso, numasituação dada. É uma pergunta que se antecipa a qualquer situação de compromisso. Indaga sobre aontologia do ser sujeito do compromisso. A resposta a esta indagação nos faz entender o atocomprometido, que começa a desvelar-se diante da nossa curiosidade.

    De fato, ao nos aproximarmos da natureza do ser que é capaz de se comprometer, estaremos nosaproximando da essência do ato comprometido.

     A primeira condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de agire refletir.

     É preciso que seja capaz de, estando no mundo, saber-se nele. Saber que, se a forma pela qual estáno mundondiciona a sua consciência deste estar, é capaz, sem dúvida, de ter consciência destaconsciência condicionada. Quer dizer, é capaz de intencionar sua consciência para a própria forma deestar sendo, que condiciona sua consciência de estar.

     Se a possibilidade de reflexão sobre si, sobre seu estar no mundo, associada indissoluvelmente à suaação sobre o mundo, não existe no ser, seu estar no mundo se reduz a um não poder transpor oslimites que lhe são impostos pelo próprio mundo, do que resulta que este ser não é capaz decompromisso. É um ser imerso no mundo, no seu estar, adaptado a ele e sem ter dele consciência.Sua imersão na realidade, da qual não pode sair, nem “distanciar-se” para admirá-la e, assim,transformá-la, faz dele um ser “fora” do tempo ou “sob” o tempo ou, ainda, num tempo que não éseu. O tempo para tal ser “seria” um perpétuo presente, um eterno hoje.

    A - histórico, um ser como este não pode comprometer-se; em lugar de relacionar-se com o mundo,o ser imerso nele somente está em contato com ele. Seus contatos não chegam a transformar omundo, pois deles não resultam produtos significativos, capazes de (inclusive, voltando-se sobre ele)marcá-los.

    Somente um ser que é capaz de sair de seu contexto, de “distanciar-se” dele para ficar com ele;capaz de admirá-lo para, objetivando-o, transformá-lo e, transformando-o, saber-se transformadopela sua própria criação; um ser que é e está sendo no tempo que é o seu, um ser histórico,somente este é capaz, por tudo isto, de comprometer-se.

http://www.esnips.com/doc/835de4bf-9d11-4142-8660-53341b799b51/FREIRE,-Paulo.-Educa%C3%A7%C3%A3o-e-mudan%C3%A7a.-12.ed.-SL,-Paz-e-Terra,-2001 >. Acesso em: 05 de abril. 2011.

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